domingo, agosto 07, 2011

A crise do egoismo

Assiste-se hoje a uma grave crise financeira, económica e social. As repercussões desta crise são ainda difíceis de avaliar, mas existe uma clara consciência de que os filhos de hoje viverão pior que os seus pais, algo que até pouco anos atrás seria completamente inimaginável. Grande parte dos analistas políticos e financeiros culpam o sistema capitalista desregulável e o excesso da dívida dos países e dos cidadãos como os principais culpados desta crise. É verdade que durante muitos anos grande parte de nós viveu acima das suas possibilidades contraindo um grande número de empréstimos pelos mais variados motivos, desde a habitação até crédito para férias. Se o recurso sistemático ao crédito ao consumo revela um claro excesso de luxúria, já o recurso ao crédito à habitação tornou-se como uma necessidade imperiosa para quem deseja e tem necessidade de ter uma casa própria. Sem recurso ao crédito teríamos certamente que morar em casa dos pais toda a nossa vida atendendo ao valor excessivo do mercado de habitação em comparação com os salários médios praticados junto da população mais jovem.

Convém analisar as causas desta crise que no meu entendimento sem bem mais profundas e de difícil recuperação, sem que exista uma forte mudança de paradigma à escala global. Gostaria de pegar nas afirmações do antigo chanceler alemão Helmut Kohl que numa recente entrevista disse que o grande problema dos actuais líderes europeus é não terem vivido a 2º Guerra Mundial tal como sucedeu com ele. Esta afirmação é reveladora de uma realidade preocupante e que pode ser analisada de uma forma mais profunda. Grande parte da nossa geração, dos nossos líderes políticos e empresariais, já não conviveram com esta triste realidade. O contacto com esta realidade triste e cruel tornaram os nossos líderes do passado pessoas mais conscienciosas e tolerantes com o outro. Por seu lado, os que não conviveram com esta realidade possuem um apego superior aos bens materiais e tendem a desvalorizar princípios básicos de convivência e solidariedade, pois nunca sentiram directamente privações desta ordem de grandeza. Esta é uma realidade e, consequentemente, tornou as pessoas menos tolerantes e cada vez mais exigentes na perspectiva de atingirem o sucesso individual, muitas vezes à custa do desrespeito pelo bem-estar do próximo.

No actual paradigma social e político assiste-se cada vez mais a medidas egoístas. São os Estados que só emprestam dinheiro a outro país em troca de elevados juros, são as empresas que procuram sucessivamente aumentar os seus lucros de semestre para semestre, são os accionistas que praticam medidas especulativas na busca do lucro fácil e são as pessoas que querem ter um elevado nível de vida à custa de pouco esforço. Desta forma, e em termos globais, não teremos condições de atingir a tão almejada prosperidade. Neste sentido, considero que a nossa crise resume-se a uma crise do egoísmo, que é bem mais preocupante que uma mera crise económica, financeira e social. Para se vencer esta crise terá necessariamente que surgir uma mudança de paradigma que permita encontrar soluções abrangentes que ataquem estas três dimensões, sem as quais o egoísmo terá um terreno fértil para prosperar.