sexta-feira, outubro 02, 2009

Polémica das escutas na Presidência da República

A declaração do Presidente da República está longe de esclarecer tudo para além de dois factos essenciais: o Drº. Cavaco Silva considera que o partido do Governo tentou puxá-lo para a luta político-partidária e provocou desviar as atenções do debate eleitoral das questões que realmente preocupavam os cidadãos. Nestes dois pontos estamos claramente de acordo. Contudo, o não esclarecimento em momento oportuno de toda esta polémica alimentou demasiadas especulações, que foram usadas como armas de arremesso político. Este tipo de ambiguidades, de insinuações, de lutas de poder, de mensagens pouco claras é obras de políticos que não se dignam a exercer as funções para as quais foram eleitos. Infelizmente, a classe política e o trabalho político é bastante preenchido por este tipo de situações.

Regressando aos factos que suscitaram toda esta polémica. O e-mail que foi tornado público pelo DN e trocado entre a casa civil da presidência da república e o jornal Público poderá ter sido interceptado junto do jornal Público, e não dos computadores da Presidência da República. Aliás, este é até o cenário mais provável. Em 2º lugar, o PS lançou a acusação de que membros da casa civil da presidência participavam na elaboração do programa de governo do PSD. Também julgo que tal situação não constitui uma irregularidade, pois o seu contributo é feito em nome pessoal e não são remunerados por esta tarefa. Contudo, faltou o esclarecimento por parte do Drº. Cavaco Silva logo que esta acusação foi lançada pelo PS. Em 3º lugar, o Presidente da República não pode acordar para o problema da segurança informática a meio do seu mandato presidencial. Este é um problema sério e deveriam já existir políticas de segurança informática que permitissem certificar a segurança dos sistemas de informação usados no Palácio de Belém. Este deveria ser um procedimento regular e não meramente extraordinário.

Por último, e respondendo ao repto de alguns comentadores políticos que julgam que se atingiu um ponto de não retorno entre a PR e o PM, gostaria de expressar também a minha opinião. Obviamente que as relações entre o Presidente da República e o Primeiro Ministro e partido do governo (PS) estão tensas, mas julgo que o PS não se encontra liquidado à nascença. Acredito que toda esta poeira irá assentar e as relações entre estas duas instituições poderão melhorar, mas nunca estarão a um nível desejável para que se possa considerar que existe uma boa cooperação institucional entre S. Bento e Belém. Uma eventual demissão do novo Governo eleito democraticamente por parte do Presidente da República só iria prejudicar o país, a sua própria imagem pessoal e favorecer o PS. Garantidamente que se num curto espaço de tempo existisse um novo acto eleitoral, o PS teria todas as condições de conseguir um Governo de maioria absoluta e, aliado a isso, conseguir colocar um Presidente da República indicado pelo Partido Socialista. Este, é de todo, um cenário que não agrada ao actual Presidente da República e também ao PSD. A política, contrariamente à cultura militar, baseia-se em cenários de equilíbrio e todos os envolvidos sabem das consequência nefastas que existem em colocar em causa este equilíbrio. Na política opta-se muitas vezes por se seguir uma estratégia baseada no adiamento, da não tomada de decisão, para não ferir certas susceptibilidades. Por outro lado, a cultura militar é bem mais pragmática, procurando os desequilíbrios com o intuito de encontrar um vencedor.