quarta-feira, dezembro 24, 2008

Plano de salvamento da Qimonda

No início desta semana foi tornado público de que a Qimonda passa por sérios problemas financeiros que podem comprometer a continuação da sua actividade e, consequentemente, da sua fábrica em Vila do Conde (Mindelo). De facto, esta é uma situação extremamente preocupante, pois a Qimonda é a maior expertadora portuguesa, sendo também geradora de emprego qualificado numa zona do país onde não abunda esta oferta. Assim, a medida tomada pelo governo português de conceder uma empréstimo de 100 milhões de euros através da CCG foi acertada e necessária, numa altura em que a crise internacional ameaça aumentar drasticamente a taxa de desemprego em Portugal. Contudo, eu não gostaria de deixar passar este momento sem deixar um conjunto de recomendações para que este plano de apoio à Qimonda possa ter sucesso.

Em primeiro lugar torna-se importante analisar a origem dos problemas financeiros da Qimonda. Estes problemas são devidos essencialmente a dois factores: a crise internacional que fez diminuir a procura de semicondutores e que provocou um excesso de oferta no mercado. Paralelamente, o mercado de semicondutores tem sofrido uma rapídissima evolução tecnológica, na qual a Qimonda não se tem conseguido adaptar a esta rápida mudança. Como ex-colaborador da Qimonda identifico algumas das causas que levaram a Qimonda a perder o pelotão da frente. Verifiquei que a Qimonda não tem um plano estruturado que permita sustentar as suas vantagens competitivas, existindo um claro distanciamento entre a sua estrutura de gestão internacional e os gestores de cada uma das delegações das fábricas Qimonda espalhadas pelo mundo. De facto, e olhando para a Qimonda Portugal, verificamos que esta possui quadros de excelência e uma equipa técnica muito qualificada, mas cujo trabalho não é reconhecido pela Qimonda AG. Aliás, mais grave do que isso, é o facto dos gestores da Qimonda Portugal não saberem em concreto qual é o papel da Qimonda Portugal dentro da estrutura Qimonda AG. Desta forma, e apesar de a fábrica local ser competitiva, o que se passa é que a Qimonda AG não sabe tirar partido desta sua mais valia. Simultaneamente, a Qimonda Portugal deveria ter um papel social mais intreventivo. Estamos a falar do 2º maior investimento em Portugal, e o maior do Norte do país, mas a realidade é que pouca gente o conhece e a empresa encontra-se voltada para si mesmo. Só muito recentemente se assistiu a uma abertura da Qimonda para as universidades portuguesas, deixando passar uma janela de oportunidade no decorrer dos últimos anos. Para além disso, as parcerias locais da Qimonda com outras empresas nacionais são ainda muito reduzidas.

A resposta do Governo português, tal como eu já referi anteriormente, é positiva, mas pode ter um impacto quase nulo. A Qimonda compromete-se a desenvolver mais as suas unidades de I&D em Portugal, mas o Estado tem poucas garantias neste sentido. Pode-se ficar apenas por um conjunto de boas intenções. Mais grave do que isso, o que pode suceder é que a empresa não consiga superar os seus problemas internos de organização e competitividade, e desta forma não seja possível efectivar estes investimentos nas unidades de I&D. No meu entendimento, o Estado deve estreitar as relações com a Qimonda e sobretudo fazer todos os possíveis para aumentar a visibilidade da Qimonda Portugal dentro do grupo da Qimonda AG. Só assim, o Estado pode rentabilizar o seu investimento e fazer com que a Qimonda continue a ser um importante “player” na economia nacional.

sexta-feira, dezembro 19, 2008

Falta dos deputados do PSD às votações no Parlamento

Nas últimas semanas foi notícia o facto de vários deputados do PSD terem faltado à votação de diplomas na Assembleia da República. Considero que este é um problema que afecta todas as forças políticas e que, para ser resolvido, precisa de políticas de fundo para revitalizar a actividade parlamentar. Actualmente, ser-se deputado no parlamento nacional não é um motivo de prestígio e de orgulho perante a nossa sociedade. É a própria sociedade que se manifesta de forma informal e que diz que “só vai para deputado quem não sabe fazer mais nada”. É de facto uma vergonha o actual estado dos órgãos representativos da democracia em Portugal. Contudo, eu não fico indiferente e acredito que ainda se está a tempo de inverter esta situação.


Assim, apresento para mim duas medidas de fundo que iriam certamente ajudar na inversão da actual situação. Em primeiro lugar, defendo que os deputados só deveriam ter uma actividade profissional, ou seja, deveria existir exclusividade no exercício das funções de deputado. Sei que esta medida não iria ser apreciada pelos actuais deputados, pois muitos deles acumulam outras funções. Contudo, esta é uma medida indispensável, da qual não se deveria abdicar. Porventura, tal iria originar uma forte renovação dos quadros parlamentares, o que até seria positivo, pois muitos dos actuais deputados encontram-se desmotivados. Uma outra medida de grande importância passa pela aproximação dos deputados aos eleitores que os elegeram. Muitas vezes, os deputados representam círculos eleitorais de onde não são oriundos e acerca dos quais não têm um vasto conhecimento. Desta forma, poderia-se estabelecer um dia por semana em que os deputados viessem junto dos distritos que representam e estivessem concentrados nos problemas reais desse distrito. Para além disso, esta medida seria muito importante no estritamento das relações entre o poder nacional e o poder local.


Finalmente, e em relação ao problema em concreto da falta dos deputados, considero que as duas medidas enumeradas atrás iriam resolver em parte este problema, pois teríamos deputados melhor preparados e motivados. Para além disso, considero que os deputados em matérias de faltas devem ter os mesmos direitos que os restantes trabalhadores e a justificação das suas faltas só deve acontecer quando existe matéria justificativa para enquadrar a sua falta no regime geral das faltas justificáveis. Deve existir uma obrigatoriedade na informação prévia das faltas, salvo o caso de doenças ou outras situações anómalas previstas na lei e deve ser muito bem ponderado a justificação das faltas alegando “trabalho político”. Estes dias de trabalho político devem estar previstos na lei e devem poder ser usadas de igual forma por todos os deputados, independentemente do seu estatudo dentro da bancada parlamentar a que pertencem.

quarta-feira, novembro 19, 2008

Teixeira dos Santos é o pior ministro europeu das Finanças no “ranking” do Financial Times

É triste para Portugal receber esta notícia, apesar de não ser totalmente surpreendente. De uma maneira geral, os governantes portuguese têm um desempenho bastante abaixo do que seria esperado, e não representam o que de melhor existe em Portugal em cada uma das áreas governativas. A actual actividade política não cativa a captura dos mais bem formados e preparados para o exercícios desta funções. Na prática, seguir uma carreira no sector privado acaba por ser bem mais apelativa e compensadora, nos mais diversos níveis.

Por último, a minha opinião pessoa é que o Drº Teixeira dos Santos está longe de ser o pior ministro do governo socialista. Seria ainda mais deplorável para nós, se existisse um ranking internacional em que fossem avaliados comparativamente os ministros das Obras Públicas, Economia, Ambiente ou Agricultura. Aí...os resultados seriam ainda piores.

terça-feira, maio 27, 2008

Considerações sobre as próximas eleições directas no PSD

As eleições que se avizinham no PSD asseguram-se de grande importância para o partido e para o país. O país precisa de um PSD forte e responsável, que possa se constituir como uma verdadeira “oposição”. Ser “oposição” significa apresentar um conjunto de alternativas de governação credíveis, e não unicamente de tentar denegrir a imagem do primeiro-ministro, do seu governo e das suas políticas. Se o PSD quer ser uma alternativa de governo, então não deve ter medo de apresentar as suas propostas perante o país.

Feita esta curta consideração inicial, gostaria agora de focar a minha atenção na análise das várias candidaturas à liderança do PSD. Na minha opinião, só existem verdadeiramente três candidatos com condições efectivas de chegar à liderança do PSD, sendo eles a Drª Manuela Ferreira Leite, o Drº Pedro Passos Coelho e o Drº Pedro Santa Lopes. Os dois restantes candidatos merecem o meu apreço por terem tido a coragem de se candidatarem, mas de facto não conseguiram mobilizar o partido em torno das suas candidaturas.

Um ponto importante diz respeito à análise do melhor candidato para o PSD nas próximas eleições legislativas. Considero que existem três critérios muito importantes na tomada desta decisão, que se devem basear em factos objectivos e concretos. Os critérios por mim estabelecidos são: currículo de cada candidato, ideias/projectos apresentados perante o país e a equipa de trabalho que consegue reunir à sua volta.

A Drª Manuela Ferreira Leite apresente um currículo bastante bom, com uma grande experiência governativa e com fortes competências técnicas e políticas na área das finanças públicas. Já foi ministra da educação e das finanças com relativo sucesso, especialmente na sua segunda experiência governativa. Apesar de se poder colocar em causa o sucesso efectivo das suas políticas governativas, algo de que praticamente ninguém duvida é da sua competência, rigor e credibilidade e, acima de tudo, de falar verdade perante os portugueses. Ao longo desta campanha, não tem apresentado muitas ideias e projectos para a sua governação, pois considera que não se pode apresentar “promessas”, sem ter em sua posse a noção exacta da realidade das contas públicas do país. Compreendo as suas razões, mas penso que existem um conjunto de medidas que poderiam ser de facto já anunciadas e que visam dinamizar a economia. Existem muitas medidas concretas na área económica que visam tornar o país mais competitivo e que não podem estar reféns das finanças públicas. Quanto à sua equipa de trabalho, esta será certamente constituída por personalidades de referência no país e com uma forte experiência de trabalho no sector público e privado, para além de muitos deles já terem uma grande experiência governativa.

O Drº Pedro Passos Coelho baseia a sua candidatura na novidade do seu discurso, das suas ideias e na intenção de abrir o partido à sociedade civil. Possui um conjunto de referências e valores que são importantes na política e que conseguem captar o interesse de muitos sectores da sociedade civil e em especial da juventude portuguesa. Para além disso, é alguém que se mostra sempre disponível em escutar as bases do partido e de dialogar com elas. Merece os meus elogios por esta sua forma de estar na política. Agora, analisando o seu currículo, podemos constantar que o mesmo é bastante limitado. Possui de facto alguma experiência política, sobretudo aquando da sua passagem pela liderança da bancada parlamentar do PSD e como líder da JSD. Agora, se do ponto de vista político a sua experiência poder ser considerada satisfatória, o mesmo já não se pode dizer da sua experiência e conhecimento do sector público e privado. É do meu ponto de vista a sua principal lacuna em termos curriculares. De facto, é o candidato que apresenta mais ideias sobre o rumo do país e o papel do Estado na sociedade, apesar de eu discordar da maioria das suas ideias. Defende um Estado menos interventivo na sociedade, o qual merece o meu total apoio, mas apresenta também uma visão demasiado liberal da sociedade. Acredito que deve existir uma transferência gradual de competências do Estado para as autárquias e para o sector privado, mas as ideias do Drº Pedro Passos Coelho, tal como se encontram no momento, podem enfraquecer o Estado e criar um clima em que o sector privado assume o papel principal na sociedade e sem qualquer controlo. Para além disso, e para se dar seguimento a estas ideias, torna-se necessário ter uma equipa de trabalho altamente credível e competente. Não acredito que o Drº Pedro Passos Coelho tenha condições para formar esta equipa junto do sector privado e das universidades de referência em Portugal.

O Drº Pedro Santana Lopes apresenta uma candidatura que visa marcar uma posição interna dentro do PSD e em dar sequência ao trabalho realizado por si, quando foi primeiro-ministro por um curto espaço de tempo. Face à sua experiência governativa anterior, enquanto primeiro-ministro de Portugal, não apresenta nenhuma ideia ou projecto verdadeiramente inovador. Possui um currículo com uma grande experiência política, com destaque para o seu conhecimento e trabalho realizado junto do poder local, mas também não possui qualquer experiência relevante no sector privado. Não tem novos projectos para o país, apesar de afirmar que se encontra diferente e com uma nova motivação em assumir tais responsabilidades. Também ficam muitas dúvidas quanto à equipa de trabalho que consegue reunir à sua volta, uma vez que foi a sua equipa de trabalho anterior que colocou em causa a sua liderança enquanto primeiro-ministro de Portugal. O Drº Pedro Santana Lopes teve sempre a dificuldade de ter sido nomeado primeiro-ministro, sem ter sido de facto sujeito a um processo eleitoral que validasse a sua eleição. No me entendimento, ainda não se encontram reunidas as condições para que o Drº Pedro Santana Lopes possa assumir de facto a liderança do país nos próximos anos.

Em suma, acredito que a Drª Manuela Ferreira Leite é a melhor candidata que o PSD pode apresentar nas próximas eleições legislativas. Terá contudo que trabalhar mais nas áreas sociais e terá que apresentar propostas alternativas de governação face ao Engº José Sócrates. O Drº Pedro Passos Coelho é alguém que pode e deve ser aproveitado dentro do PSD. É de facto um candidato de futuro que terá que aumentar o seu conhecimento acerca do funcionamento do sector público e privado. Caso consiga suprir estas suas lacunas, então o PSD terá um candidato credível a futuro primeiro-ministro.