terça-feira, maio 27, 2008

Considerações sobre as próximas eleições directas no PSD

As eleições que se avizinham no PSD asseguram-se de grande importância para o partido e para o país. O país precisa de um PSD forte e responsável, que possa se constituir como uma verdadeira “oposição”. Ser “oposição” significa apresentar um conjunto de alternativas de governação credíveis, e não unicamente de tentar denegrir a imagem do primeiro-ministro, do seu governo e das suas políticas. Se o PSD quer ser uma alternativa de governo, então não deve ter medo de apresentar as suas propostas perante o país.

Feita esta curta consideração inicial, gostaria agora de focar a minha atenção na análise das várias candidaturas à liderança do PSD. Na minha opinião, só existem verdadeiramente três candidatos com condições efectivas de chegar à liderança do PSD, sendo eles a Drª Manuela Ferreira Leite, o Drº Pedro Passos Coelho e o Drº Pedro Santa Lopes. Os dois restantes candidatos merecem o meu apreço por terem tido a coragem de se candidatarem, mas de facto não conseguiram mobilizar o partido em torno das suas candidaturas.

Um ponto importante diz respeito à análise do melhor candidato para o PSD nas próximas eleições legislativas. Considero que existem três critérios muito importantes na tomada desta decisão, que se devem basear em factos objectivos e concretos. Os critérios por mim estabelecidos são: currículo de cada candidato, ideias/projectos apresentados perante o país e a equipa de trabalho que consegue reunir à sua volta.

A Drª Manuela Ferreira Leite apresente um currículo bastante bom, com uma grande experiência governativa e com fortes competências técnicas e políticas na área das finanças públicas. Já foi ministra da educação e das finanças com relativo sucesso, especialmente na sua segunda experiência governativa. Apesar de se poder colocar em causa o sucesso efectivo das suas políticas governativas, algo de que praticamente ninguém duvida é da sua competência, rigor e credibilidade e, acima de tudo, de falar verdade perante os portugueses. Ao longo desta campanha, não tem apresentado muitas ideias e projectos para a sua governação, pois considera que não se pode apresentar “promessas”, sem ter em sua posse a noção exacta da realidade das contas públicas do país. Compreendo as suas razões, mas penso que existem um conjunto de medidas que poderiam ser de facto já anunciadas e que visam dinamizar a economia. Existem muitas medidas concretas na área económica que visam tornar o país mais competitivo e que não podem estar reféns das finanças públicas. Quanto à sua equipa de trabalho, esta será certamente constituída por personalidades de referência no país e com uma forte experiência de trabalho no sector público e privado, para além de muitos deles já terem uma grande experiência governativa.

O Drº Pedro Passos Coelho baseia a sua candidatura na novidade do seu discurso, das suas ideias e na intenção de abrir o partido à sociedade civil. Possui um conjunto de referências e valores que são importantes na política e que conseguem captar o interesse de muitos sectores da sociedade civil e em especial da juventude portuguesa. Para além disso, é alguém que se mostra sempre disponível em escutar as bases do partido e de dialogar com elas. Merece os meus elogios por esta sua forma de estar na política. Agora, analisando o seu currículo, podemos constantar que o mesmo é bastante limitado. Possui de facto alguma experiência política, sobretudo aquando da sua passagem pela liderança da bancada parlamentar do PSD e como líder da JSD. Agora, se do ponto de vista político a sua experiência poder ser considerada satisfatória, o mesmo já não se pode dizer da sua experiência e conhecimento do sector público e privado. É do meu ponto de vista a sua principal lacuna em termos curriculares. De facto, é o candidato que apresenta mais ideias sobre o rumo do país e o papel do Estado na sociedade, apesar de eu discordar da maioria das suas ideias. Defende um Estado menos interventivo na sociedade, o qual merece o meu total apoio, mas apresenta também uma visão demasiado liberal da sociedade. Acredito que deve existir uma transferência gradual de competências do Estado para as autárquias e para o sector privado, mas as ideias do Drº Pedro Passos Coelho, tal como se encontram no momento, podem enfraquecer o Estado e criar um clima em que o sector privado assume o papel principal na sociedade e sem qualquer controlo. Para além disso, e para se dar seguimento a estas ideias, torna-se necessário ter uma equipa de trabalho altamente credível e competente. Não acredito que o Drº Pedro Passos Coelho tenha condições para formar esta equipa junto do sector privado e das universidades de referência em Portugal.

O Drº Pedro Santana Lopes apresenta uma candidatura que visa marcar uma posição interna dentro do PSD e em dar sequência ao trabalho realizado por si, quando foi primeiro-ministro por um curto espaço de tempo. Face à sua experiência governativa anterior, enquanto primeiro-ministro de Portugal, não apresenta nenhuma ideia ou projecto verdadeiramente inovador. Possui um currículo com uma grande experiência política, com destaque para o seu conhecimento e trabalho realizado junto do poder local, mas também não possui qualquer experiência relevante no sector privado. Não tem novos projectos para o país, apesar de afirmar que se encontra diferente e com uma nova motivação em assumir tais responsabilidades. Também ficam muitas dúvidas quanto à equipa de trabalho que consegue reunir à sua volta, uma vez que foi a sua equipa de trabalho anterior que colocou em causa a sua liderança enquanto primeiro-ministro de Portugal. O Drº Pedro Santana Lopes teve sempre a dificuldade de ter sido nomeado primeiro-ministro, sem ter sido de facto sujeito a um processo eleitoral que validasse a sua eleição. No me entendimento, ainda não se encontram reunidas as condições para que o Drº Pedro Santana Lopes possa assumir de facto a liderança do país nos próximos anos.

Em suma, acredito que a Drª Manuela Ferreira Leite é a melhor candidata que o PSD pode apresentar nas próximas eleições legislativas. Terá contudo que trabalhar mais nas áreas sociais e terá que apresentar propostas alternativas de governação face ao Engº José Sócrates. O Drº Pedro Passos Coelho é alguém que pode e deve ser aproveitado dentro do PSD. É de facto um candidato de futuro que terá que aumentar o seu conhecimento acerca do funcionamento do sector público e privado. Caso consiga suprir estas suas lacunas, então o PSD terá um candidato credível a futuro primeiro-ministro.

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